“Vida de negro é difícil, é difícil como o quê ...” A famosa música de Dorival Caymmi cabe como uma luva nessa nova etapa da História do Rock... como uma luva em mãos calejadas! Jamais poderíamos imaginar que os maus tratos dispensados aos escravos negros, trazidos da África pelos “Senhores Brancos Americanos” para enriquecer nas plantações de Algodão no Sul dos EUA, seriam o grito de guerra fundamental à criação do Rock’n’Roll .
“Importados” de três regiões do Continente Africano – Costa do Marfim, Floresta Tropical e Congo –, os negros trouxeram na bagagem “apenas suas lembranças e suas riquezas musicais". Dessas regiões viriam respectivamente as longas linhas melódicas, os cantos ornamentados e os instrumentos de corda, os ritmos mais complexos e grandes instrumentos de percussão, e também a música separada em solista e grupo vocal, acrescentados à cultura musical rural do branco americano das fazendas e dos campos de colheita. Essa forma citada acima poderá ser encontrada na música Gospel – seu improviso melódico e textual entre coro e solista: o solista canta uma frase, repetida a seguir pelo grupo todo. Encontraremos os mesmos efeitos mais adiante, no Blues, no Rock, no Samba, no Rap e no Hip-Hop.
Essa mistura da música negra Africana com a música branca rural da América iria se tornar o grande encontro das águas – como Rio Negro e Solimões –, preparando assim todo o terreno para a formação dos primeiros cantores de Blues-Folk e Rockabilly , fundamental para estrutura do Rock e suas ramificações.
À base das chibatadas, os escravos costumavam trabalhar de sol a sol, parando apenas à noite em breves "Pit-Stops" para descansar a “carcaça” no Box , com teto aberto para a lua cheia e suas estrelas inspiradoras. Como forma de adoração a Deus, ou mesmo de desabafo contra os maus-tratos, abusos, discriminação e opressão impostos pela sociedade , os escravos arrumaram um jeito de ter seu espaço e seu canto fortalecidos através da música – feita em segredo, na calada da noite, pois eram proibidos de tocar percussão e cantar –, mantendo assim intacta sua coletividade e união contra os Senhores Brancos.
Era a única forma de sobrevivência naquela condição sub-humana, e a verdade com que entoavam seus cantos era de uma força, comoção e dignidade ímpares. Porém, em pouco tempo, os Senhores descobririam que essa “ilegal” atividade lhes traria mais lucros caso fosse liberada, pois os escravos trabalhavam mais felizes quando cantavam, e assim renderiam muito mais. A partir daí , das plateias noturnas para as plateias diurnas, chegavam ao mercado as primeiras canções de trabalho, as WORK-SONGS !!!! Como exemplo de pergunta e resposta em coro, a música "Vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo..." do grupo Molejo...rsssss... -– perfeita Work Song de nossos tempos !!
Conforme o tempo foi passando, depois de várias tentativas frustradas de destruir a cultura negra a partir da mistura de suas tribos, os escravos foram sendo integrados ao novo mundo, e a música Africana teria uma importante e significativa junção com a música Europeia. Quanto mais se tentava “educar” religiosamente os escravos, mais suas músicas pendiam para essa vertente da adoração a Deus, só que agora também misturada a hinos ocidentais clássicos . De Work-Songs as músicas passariam a Spirituals Songs , e o sonho dos escravos por uma vida melhor , ganhava corpo e alma. A melhor explicação dessa transformação foi dada por um escravo, na época :
"O meu senhor manda me chamar , diminui minha ração de fubá e ordena que me dêem 100 chibatadas. Meus amigos dão uma olhadela ficam com pena de mim. E a noite, quando vão para a casa da louvação cantam a respeito disto. Alguns são cantores muito bons, vão trabalhando na coisa, caprichando, caprichando até acertar mesmo. É assim , dessa maneira.".
Como exemplo: "Nobody Knows the Trouble I've seen" - Golden Gate Quartet (1955).
"Ao mesmo tempo, como palavra de Deus na música, O Gospel é cantado nas igrejas, com mensagens religiosas tiradas da Biblia e contadas em forma de música. O interessante é que o estilo do "rap", surgido muito tempo depois, tem suas origens no Gospel". Esse aspecto é bastante interessante e chega a parecer cômico, uma vez que o Gospel também é conhecido como a música das Boas Notícias, ao contrário da ideologia "rapper".
Como podemos ver , a mesma história que nos proporciona grandes risadas e grandes momentos brincalhões , também retrata a profunda ferida na sociedade negra, e os absurdos cometidos pelos "Senhores Brancos", detentores do poder econômico, social e político.
Como aqui no "blog" se colhe o que se planta, a volta foi dada por cima, e os negros conquistariam sua hegemonia ao revolucionar a música no século XX, com a invenção desse " “tal de rockenroll"- – , mesmo a partir das mãos calejadas. Como imaginar que os alicerces do Rock teriam tanta sustentabilidade entre dois diferentes ângulos da história, – o dos brancos e o dos negros -?
Afinal, nas fazendas, tanto encontrávamos escravos negros, quanto brancos "caipiras", e é essa mistura do Country & Western com o Rhythm & Blues que vai gerar o equilíbrio e será a mola propulsora do Rock, dando asas a Elvis Presley, Chuck Berry, e muito mais... A história vai se transformar...- – aguardem o próximo capítulo...
Via: MTV
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