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20 de maio de 2010

História do Rock: 04 - Negros x Brancos e o surgimento do blues

Corre a lenda que o primeiro som blues tirado de um instrumento (semelhante ao que viria a ser o principal traço do blues acústico na pré-invenção da guitarra ) foi dentro de um trem, nas mãos de um violeiro "penetra", que tocava com um canivete, fazendo o ruído característico do slide no violão de aço . Como correu essa lenda? W.C.Handy – que se dizia o pai do Blues – viajava como clandestino e presenciou essa pitoresca cena em 1903, compondo assim o primeiro blues da história: St Louis Blues.

Mas isso não seria o mais importante nesse modo de contar a história do rock, baseado no chamado "efeito borboleta". Com a chegada dos negros africanos à América, como já visto no capítulo anterior deste blog – aqui se colhe... logo ali se planta – estava ali surgindo e tomando forma um estilo musical muito par ticular, que dava uma dimensão da sofrida vida dos escravos numa terra estranha, com gente esquisita. Estava nascendo então... o Blues.

Não podemos de forma alguma deixar de falar muito sério neste ponto da história, pois a divisão da América entre os que defendiam a escravatura e os que a queriam abolir, numa forma de igualdade entre os seres humanos, deixou o país dividido entre os anos de 1861 e 1865 .... e até mesmo após o fim da guerra. Muitas mortes ocorreram na briga entre os Estados Confederados do Sul, latifundiários das plantações (que defendiam o regime escravocrata), e os Estados do Norte, industrializados (que, liderados por Abraham Lincoln, defendiam o fim da escravidão).

Ao início da guerra havia 19 Estados livres e 15 Estados onde era permitida a escravidão... isto teve repercussão em toda sociedade americana, cada um com seus interesses. Era como uma rivalidade de gangs, cada qual com sua ideologia, ou dois clubes rivais, como Flamengo e Vasco.

California,Connecticut, Delaware, Illinois, Indiana, Iowa, Kentucky, Maine, Maryland, Massachussetts, Michigan, Minnesota, Missouri , Nova Hampshire, Nova Jersei, Nova Iorque,Ohio, Oregon, Pensilvania, Rhode Island, Vermont e Wisconsin, mais os territórios de Colorado, Dakota Nebraska, Nevada, Novo México, Utah e Washington, do lado esquerdo do ringue.... eram os liberais...

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Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Lousiana, Mississippi, Tennessee, Texas e Virgínia (esta última tornada a capital federada e racista), do lado direito do ringue.... eram os favoráveis à escravidão.

Essa guerra foi um marco na vida dos americanos, em todos os sentidos, e não seria diferente na música. Talvez por isso se ouça tanta citação aos Estados Confederados nas canções "blueseiras", nascidas da verdade das cicatrizes e dos corações apunhalados dos escravos negros, entristecidos por tanto sofrimento na maior parte da sua existência.

Podemos assim dizer que o Blues surge não apenas de uma música ou de um rapaz arranhando seu canivete num trem, e sim de uma onda de acontecimentos e, principalmente, das Work-Songs – também citadas no capítulo anterior. Uma coisa era certa: mesmo após a vitória do regime livre, continuava a perseguição feita por grupos que não se conformavam com o fato de assistirem negros assumindo posições de poder nos estados em que a escravidão representara o ponto forte, – caso da facção Klu-Klux-Klan.

Os temas do blues sempre variavam: amor, religião, trabalho, solidão e sofrimento; no período pós-Guerra Civil , o termo Blues ganhou conotação mais popular, representando um estado de espírito, e passou a simbolizar tais sentimentos, de uma maneira mais abrangente.

De volta à parte musical desta história - que em breve vai desembocar no rock -, o country blues foi a primeira forma a se manifestar como predominante na formação do Bues. Era o violão acústico, com a técnica do slide, e a batida mais reta do violão, como acompanhamento apenas. Com o violão mais usado como pergunta e resposta com a voz, o Texas Blues trazia uma maneira mais arriscada de tocar, mais ousada e menos previsível, que despontou por volta dos anos 20, sendo depois mais e mais explorada, com o surgimento da guitarra.

O Delta Blues – veio do Mississippi entre os anos 20 e 30, estado considerado o berço do blues e o primeiro lugar onde se deram registros fonográficos. Tocavam com bandas, mas as gravações ainda eram basicamente de voz e violão. Da Flórida, de West Virginia, de Delaware e de Maryland chegava o Jump Blues, nos anos 40. Essa forma – caracterizada por um cantor à frente de uma big orquestra – foi o pontapé para o início do Rock, pois combinava voz com solos de sax e menos guitarra. Formou a ponte entre o Blues e o Jazz das Big Bands (Glenn Miller e Benny Goodmann). Ray Charles se enquadra bem nesse estilo.

Nos anos 40/50 chega então um novo estilo de blues: o Blues de Chicago. Com sua explosão nessa área e o advento da eletricidade na música, o blues mudava e entrava numa nova era, tornando-se muito popular no sul dos Estados Unidos. Assim como John Lee Hooker foi o primeiro a eletrificar sua guitarra no blues, Muddy Waters é considerado o primeiro a eletrificar todos o s instrumentos de sua banda. Então, com Buddy Guy, John Lee Hooker, Willie Dixon, Little Walter, Howlin Wolf, Elmore James, B. B. King, Sonny Boy Williamson II, Junior Wells, Muddy Waters, Howlin Wolf, Jimmy Rogers, Magic Sam e Otis Rush, entre outros grandes, temos a amplificação dos instrumentos, somada à batida de baixo-bateria-piano, e a partir daí, o estopim para o surgimento do rock'n'roll, com suas batidas repetidas, marcadas e firmes.

O Lousiana e o Harmonica Blues foram importantes ao trazer o booggie wooggie e a gaita para outros formatos da canção. Quando a guitarra realmente entrou em cena, e o Blues se transformou, nomes como Rolling Stones, Cream, e Jimi Hendrix agradeceram muito a existência do gênero, pois beberam bastante em sua fonte. Pronto... a ligação Blues-Rock estava estabelecida... e era apenas uma das misturas que fariam a combustão para o nascimento da nova forma de música que viria a seguir...e o Blues com certeza foi a influência mais porreta !!!

Citando nomes muito importantes nesta história, dignos de ser apontados como ídolos dos grandes artistas e grupos de rock das décadas de 50 e 60, temos, a título de registro:

Scrapper Blackwell, Sleepy John Estes, Son House, Skip James, Blind Willie Johnson, Robert Johnson, Big Bill Broonzy, Lightnin Hopkins, Blind Lemon Jefferson, Charley Patton, Bobby blue Band, Albert Collins, Lightnin Hopkins, Blind Willie Johnson, Stevie Ray Vaughan, Lowell Fuson, Freddie King, T-Bone Walker, Clarence Gatemouth Brown, Blind Lemon Jefferson, John Lee Hooker, Arthur Big Boy Crudup, Robert Lockwood Jr., Robert Johnson, Big Joe Williams, Muddy Waters, Sonny Boy Williamson II, Tommy Johnson, Mississippi Fred McDowell, Amos Milburn, Jimmy Witherspoon, Big Joe Turner, Leroy Carr, Ray Charles, Champion Jack Dupree, Pee Wee Crayton, Floyd Dixon, Johnny Otis, Buddy Guy, Willie Dixon (o líder e poeta-baixista) , Little Walter, Elmore James, B. B. King, Sonny Boy Williamson II, Junior Wells, Muddy Waters, Howlin Wolf, Jimmy Rogers, Magic Sam, Otis Rush, Champion Jack Dupree, Lonesome Sundown, Slim Harpo, Lightnin S lim, Slim Harpo, Junior Wells, Sonny Boy Williamson I e II, Sonny Terry, Jimmy Reed, Little Walter, William Clarke, Big Walter Horton, Paul Butterfield... e por aí vai......... sem eles , não podemos sequer imaginar a existência de muitos artistas da década seguinte, que os reverenciaram durante toda sua infância e modelaram sua formação musical tendo por base esses grandes mestres.

É claro que mais na frente, voltaremos a falar de outros grandes mestres do Blues que foram surgindo nas décadas seguintes.... mas isso é outra história.

E afinal, o trato de Robert Johnson com o diabo numa encruzilhada, entregando-lhe sua alma em troca de se tornar o maior cantor de blues de todos os tempos, não há de ser uma lenda... isso é a base para toda atitude do rock que viria a seguir !!!!! Se, como diz Raulzito, "O Diabo é o pai do Rock", então, na minha humilde opinião, o Blues deve ser a mãe...


Via: MTV

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