BATENDO NA PORTA DO CÉU
CAPÍTULO UM
Algumas pessoas podem experimentar em sua juventude e seguirem em frente. Outras não conseguem.
Não era mais claro se eu seria ou não uma daquelas pessoas que poderia experimentar em sua juventude e tocar o barco.
Todo dia eu me certificava de ter uma garrafa de vodka do lado da minha cama quando eu acordasse. Eu tentei parar de beber em 1992, mas comecei de novo pra valer após algumas poucas semanas. Eu não conseguia parar. Eu já estava noutro patamar. Meu cabelo começou a cair aos tufos e meus rins doíam quando eu urinava. Meu corpo não agüentava a agressão do álcool sem reclamar comigo. Um buraco havia se irrompido em meu septo nasal por causa da cocaína e meu nariz escorria continuamente como uma torneira vazando em um mictório esquecido num banheiro masculino. A pele em minhas mãos e pés rachava, e eu tinha erupções em meu rosto e pescoço. Eu tinha que vestir gazes sob minhas luvas para conseguir tocar meu baixo.
Há muitas maneiras diferentes de sair de uma zona dessas. Algumas pessoas vão direto para a reabilitação, algumas vão pra igreja. Outras vão pro AA, e muitas mais acabam em um caixão de pinho, que pra onde eu me sentia indo.
No começo de 1993 meu uso de cocaína tinha ficado tão ruim que amigos – alguns deles que cheiravam ou fumavam crack comigo – de fato começaram a tentar conversar comigo sobre isso e tentar o que podiam para manter meus traficantes fora de minha vida quando eu chegasse em casa para uma folga entre um trecho e outro da turnê. Ah, mas eu tinha meus métodos para dar a volta em todos os benfeitores. Sempre havia uma maneira em Los Angeles.
Uma das mentiras que eu contava a mim mesmo era que eu não era de fato um viciado em cocaína. Afinal de contas, eu não freqüentava rodas de cocaína e nunca cheirava só cocaína. Na verdade, eu odiava a idéia de estar cheirando. Meu uso era puramente utilitário: eu usava seus efeitos estimulantes para dissipar a bebedeira e permitir que eu bebesse por muito mais tempo – muitas vezes por dias a fio. Na verdade, na maioria das vezes, por dias a fio.
Pelo fato deu estar incrédulo de não estar me tornando o estereótipo de ‘cheiradão’, eu não tinha nenhum daqueles moedores chiques que deixavam a cocaína muito mais fácil de cheirar. Eu só pegava meu pacote, abria, quebrava uma pedra em alguns pedaços menores de um jeito qualquer, e enfiava um daqueles pedaços em meu nariz. Claro que eu sabia que meu processo primitivo estava me custando algo. O interior do meu nariz estava sempre pegando fogo. Por vezes ardia tanto que eu me curvava de dor.(...)
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